Que tarde de sábado mais estranha essa em que, com trinta anos de atraso, voltamos para assistir à última aula! Que aula insólita essa em que a primeira palavra foi de um aluno e a segunda palavra também foi de um aluno, ficando os professores quase por último... Que aula mais engraçada essa em que a maior parte do conteúdo foi transmitida pelos alunos! É que, contrariando a lógica da pedagogia, nós sabíamos muito mais que nossos professores. Quando o assunto é saudade e lembrança, a quantidade e a união fazem a diferença. Éramos vinte... vinte alunos cheios de saudade, vinte fragmentos de uma mesma memória, cada um levando no bolso uma peça desse imenso quebra-cabeça. E ali nos reunimos com alguns dos nossos mestres, Padre Pitombeira, Iolanda, Luzanira e Arnóbio, para recuperarmos as lições que não foram escritas no quadro-verde... as lições que ficaram perdidas nos desvãos das salas e das galerias. Estávamos ali prontos para ressuscitar um passado que nunca morreu, mas que deixamos esquecido dentro de um diário de classe amarelado. Ironia do destino ou não, as salas onde estudamos estavam todas fechadas. Não conseguimos pisar o solo do nosso passado. A sala onde ocorreu a aula da saudade nunca foi nossa. Parece que o destino preferiu nos reservar um território neutro para que nossa memória não esbarrasse em alguma lembrança mais sólida daqueles anos.
Que sábado esquisito! Espere aí! As aulas de recuperação aconteciam exatamente nesse dia. Será que nós voltamos ao nosso Colégio Diocesano para recuperar alguma coisa perdida? Ou será que – depois de todo esse tempo – descobrimos que aquelas paredes ainda guardavam as melhores recordações de nossa vida?
Não sei. O certo é que voltamos. Voltamos como fazem os bons alunos. Chegamos na hora certa, sem fazer barulho, bem mais comportados do que costumávamos ser. Só que dessa vez chegamos sem o caderno de sete matérias, sem os livros, sem lápis, sem caneta. Afinal,toda a matéria dessa aula cabia muito bem numa só palavra: saudade.
Társio Pinheiro
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