terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Encontro - 30 Anos depois (Discurso de abertura)

Era uma vez

"Era uma vez um grupo de meninos e meninas que, na véspera de sua adultidade, tinha que pensar em como deixar pra trás a cidade em que nasceu, as amizades que construiu, os familiares que lhe queriam ver crescendo na vida pelos estudos.
Fomos despertados para o êxodo, ato involuntário que, àquele tempo, nos permitia pensar que compúnhamos a galeria em que estavam os dois elementos que Limoeiro emprestava ao mundo; numa pauta, filtros e seus congêneres, e, no outro lote, estudantes que queriam cursar o terceiro científico e fazer uma faculdade.
Muitos, nós saímos pensando em voltar. Eu era um dos que pensavam catar um canudo na comunicação e pisar de novo com jeito de morador, para trabalhar, quem sabe, numa das emissoras de rádio aqui instaladas.
Vã ilusão na carona de uma ironia do destino, que fazia o vento soprar cada vez mais forte, levando para longe, sempre e mais, as folhas de nossa existência, cortando o umbilical fio condutor de nossas origens como que seria nosso futuro.
Mudamos de domicílio, abrimos corações e um leque para novas amizades. Perdemos contato físico com a maioria dos nossos contemporâneos, parceiros de sonhos.
Ficou pra trás um elenco de boas recordações e a certeza de que havíamos pavimentado, nos nossos primeiros anos de estudo na terra natal, um pedaço de nossa estrada, o que seria um belo começo de caminhada.
Ficou pra trás, não, me desculpem. Ficou em nós, guardado, como diz a canção, no lado esquerdo do peito, aquele sentimento do qual deixávamos fluir o afeto, o querer bem. E essa benquerença nós depositamos com o aval de mestres e professores, educadores de meninos e meninas que hoje, com certeza e sem a falsa modéstia de todos os que aqui estão, orgulham aqueles que investiram em nós um pouco de seu saber, num ato de doação que gera uma dívida e um profundo sentimento de gratidão. Obrigado, mestres.
Mas se a gente tem guardado esse sentido de carinho, de afeto, de amizade, de bem-querer, por que então esperar trinta anos para se reencontrar?
Perguntazinha incômoda, não? Chatinha mesmo, que fica remoendo e produzindo remorso em corações hoje adultos.
Tem nada, não, temos uma explicação pra isso. Querem ouvir? É porque não havia chegado o momento. É isso mesmo. Não acreditam? O mundo pode pregar a peça que quiser, mas não nos engana mais de que a vida é mesmo assim, simples, fácil de ser vivida, como um feixe regalado de bons sentimentos.
Às vezes perdemos a capacidade de ver como são simples os traços com que Deus desenha nossa felicidade. E é com essa reflexão que eu me lembro de uma historinha que me contaram sobre o lendário personagem das investigações britânicas, chamado Sherlock Holmes.
Contam que um dia, em um acampamento, Holmes e seu fiel escudeiro, doutor Watson, depois de uma boa refeição, uma garrafa de vinho, entram na barraca para dormir. Algumas horas depois, Holmes acorda, cutuca seu fiel amigo e diz: Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê”. Watson responde: “Vejo milhares e milhares de estrelas”. Holmes então pergunta: “E o que isso quer dizer, o que isso significa?”. Watson pensa por uns instantes, pondera e depois enumera:
“Astronomicamente, significa que há milhares de galáxias e, potencialmente, bilhões de planetas. Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte.
Temporalmente, deduzo que são aproximadamente 3h15min, pela altura em que se encontra a estrela polar. Teologicamente, posso ver que Deus é todo-poderoso e somos pequenos e insignificantes. Meteorologicamente, acho que teremos um lindo dia amanhã. Correto?”. Holmes fica um minuto em silêncio e responde: “Watson, seu tolo. Significa apenas que roubaram nossa barraca!!!”
Buscar outras explicações para esse intervalo de três décadas, um recreio tão prolongado, poderia nos remeter a comportamento análogo ao do doutor Watson. Mas nós podemos ensaiar algumas tentativas de bons motivos para tentar explica isso ainda. Afinal, estamos aqui comemorando nosso triunfante período de trinta anos de presunção de que já somos donos de nosso nariz, profissionais com carreiras consolidadas. Se a gente não esperasse tanto tempo, não participaríamos de uma festa tão marcante como os 80 anos de vida e dedicação ao próximo do Padre Pitombeira, que ocorre neste dezembrino mês de 2008.
Sociologicamente, podemos dizer que estamos mais maduros para trocarmos idéias e discutirmos o que houve no mundo e o que pode ser o mundo pelos nossos atos. Historicamente, podemos argumentar que voltamos para selar uma página do livro que relata a vida de nossos mestres e nossa instituição de ensino.
Antropologicamente, esperamos, todos, para nos identificarmos melhor e ganharmos em nossa auto-avaliação no que trata a pertinência com a nossa existência.
Anatomicamente, hoje vamos poder constatar que mudamos um pouco diante do que éramos em 78.
Humanamente, vamos poder nos vangloriar de estarmos iniciando um novo ciclo, uma nova fase, na amizade que agrega cada um de nós.
Mas a minha desculpa mesclada com justificativa preferida para este encontro é a que ouvi de uma voz quando escrevia este texto. Alguém, não sei quem, sussurrou em meu ouvido a seguinte frase quando pensava em como definir o desejo do reencontro. Alguém me disse: Moacir, seu tolo, não queira explicar o não encontro. Apenas admita que o reencontro está ocorrendo porque vocês sentiram saudades.

Um beijo no coração!
Moacir Maia"

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